É notório que o Brasil ainda está em crescimento populacional. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) ‘Nos últimos 50 anos, a população brasileira subiu de 60 para 200 milhões de habitantes…’ mas o dado mais importante traz; ‘…a taxa de urbanização passou de 45% para cerca de 85% e o número de municípios quase triplicou, passando para 5.565.’ o que nos mostra quão fundamental é o papel do meio urbano para a sustentabilidade e a qualidade de vida das pessoas.

Utilizando a cidade de São Paulo como um exemplo para entendermos todos os potenciais escondidos no município mais desenvolvido da região metropolitana, chegamos a um dado estimado de 676 km² de áreas de telhados, considerando a área total da cidade de São Paulo, contendo 1.521 km² (IBGE, censo 2015), as áreas de ruas com 170 km² (publicação Folha de São Paulo, 2013) e subtraindo áreas de praças públicas que já cumprem uma função socioambiental, assim como a área de rua da área total da cidade, tendo ainda a taxa de ocupação do terreno de 50% (quadro 04 do Livro IX – Anexo à Lei nº 13.885, de 25 de agosto de 2004 – Prefeitura de São Paulo).

Tomando essas áreas somente como cumpridoras da função de impermeabilização e área técnica, estaremos negligenciando um enorme potencial de geração de recursos e mitigação de impactos ambientais, uma vez que essa é uma área nobre em uma cidade verticalizada como São Paulo, com radiação solar constante, pontos de captura das primeiras águas pluviais, baixo risco de contaminação e inexistência de pragas por ser relativamente isolada.

Com essas premissas, fica evidente que estratégias como projetos coletivos e individuais integrando soluções como laje verde, cisternas e placas solares são de extrema importância para a sustentabilidade do meio urbano e sua conexão com o meio ambiente, de forma a melhor utilizar os espaços ociosos para geração de recursos e serviços ambientais.

Geração de Energia

A instalações de sistemas fotovoltaicos e placas solares podem gerar economia, produzindo energia diretamente no centro consumidor e evitando impactos ambientais, que são custos de externalidades não contabilizados monetariamente, como as distâncias para distribuição de energia e grandes usinas geradoras.

Segundo a ABRAVA o uso do aquecimento solar de água  reduz em 30% o consumo de energia elétrica. A eletricidade produzida por 1m² de placas fotovoltaicas pode evitar que 2 toneladas de CO2 sejam emitidas (de acordo com publicação Habitação Sustentável, CREA-SP, 2011).

Para efeito de comparação, o potencial brasileiro de geração de energia solar é de 283 milhões de MWh/ano, segundo a ANEEL, o que equivaleria a produção de 2,7 vezes a produção da usina de Itaipu em 2016.

Clique aqui e saiba mais sobre nosso sistema para geração de energia.

Agricultura Urbana

Utilizando-se as áreas de telhado da cidade de São Paulo, há também uma grande oportunidade para a agricultura urbana, restauração das vegetações nativas, mitigação de impactos ambientais e retenção de águas pluviais.

Atualmente utilizam-se diversas técnicas de execução de telhados ou lajes verdes, sendo a mais comum a utilização de um substrato especialmente produzido para essa finalidade, que trará grande capacidade de nutrição, retenção de água e baixa sobrecarga na estrutura.

Um sistema de laje verde elaborado somente com mantas (sem uso de argila) utilizando 5 cm de perfil de substrato e vegetação de até 0,5 m de altura, irá gerar uma sobrecarga saturada por volta de 30 kg/m², com um potencial de retenção de água pluvial de até 20 L/ m² (a depender da drenagem da laje) e fixação de até 32 kg de CO2 da atmosfera, por metro quadrado de vegetação (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável – CBSC, 2014).

Para que seja possível exemplificar o potencial de agricultura urbana em laje verde, com 10 cm de perfil de substrato é possível executar uma técnica de plantio consorciado de hortaliças (ex: alface, rúcula, agrião, espinafre e couve) em 1 m², utilizando-se de 20 à 30 unidades, e respeitando suas extratificações, concentração de cada indivíduo e tempo de colheita.

Logo podemos entender a capacidade de geração de alimentos nos centros consumidores, evitando toda logística de transporte, perdas, emissão de CO2 e utilização de agrotóxicos nos cultivos.

Clique aqui e saiba mais sobre nosso conceito de agricultura urbana.

Laje Verde

Quando pensamos nas questões de preservação e recuperação da Mata Atlântica, as lajes verdes podem desempenhar um papel fundamental; com um perfil de substrato de 20 cm é possível tornar a laje verde um fragmento de qualquer bioma.

Atualmente a Mata Atlantica tem somente 8% de sua área original (SOS Mata Atlântica), e segundo o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, há cerca de 863 km² cadastrados para restauração.

A cidade de São Paulo, com seus 676 km² de área de cobertura teria muito a acrescentar a esse processo de restauração da Mata Atlântica, ficando inclusive com 44% de sua área construída coberta com vegetação nativa.

Além de todas as possibilidades de agricultura urbana e restauração da vegetação nativa, vale lembrar que as lajes verdes, reduzem o efeito de ilhas  de calor (em 10˚C), melhoram o isolamento térmico (em 5˚C) e acústico (em 8dB) e reduzem a reflexão sonora (em 3dB), de acordo com a International Green Roof Association.

Carter, em seu estudo “Life-cycle cost–benefit analysis of extensive vegetated roof systems” (2008) diz que a laje verde pode prolongar a vida útil de uma laje por mais de 200%, cobrindo a camada de impermeabilização e protegendo-a da radiação ultravioleta e danos físicos. Segundo a National Research Council of Canada, uma laje verde pode reduzir a demanda de energia diária no uso de ar condicionado no verão em mais de 75%.

Por fim, estima-se (levantamento de mercado não oficial) que sejam instalados cerca de 20 mil m² de lajes verdes anualmente no Brasil.

Com todos esses cenários de possibilidades e potenciais para utilização das lajes e telhados, em particular na cidade São Paulo, não podemos deixar de prestar atenção na questão hídrica, um ponto latente para a cidade, seja pelo estresse ou enchentes, as lajes podem ser parte importante de uma estratégia dos governos e da sociedade.

Clique aqui e saiba mais sobre nossa solução em laje verde.

Cisternas

A utilização combinada da laje verde com cisternas pode gerar volumes mais do que suficientes para o reuso da água em atividades não nobres, além de reter e retardar o escoamento superficial (efeito run off) das lajes e telhados, retendo de 5 à 80 L/m² e devolvendo esse volume lentamente à atmosfera de forma a umidificar o ar que respiramos, sem causar enchentes e perdas monetárias a cidade.

Dado o panorama apresentado, concluímos que a sustentabilidade precisar ser vista de forma holistica, sistêmica e aplicada de acordo com a aptidão de cada edificação, suas necessidades de consumo e deveres de produção de serviços ecossistêmicos, para um meio urbano e meio ambiente equilibrado.

Clique aqui para conhecer nossas cisternas.


Autor deste artigo: Engenheiro Ambiental Amir Hernandez Musleh